Desde os tempos mais remotos o ser humano
sentiu a necessidade de corrigir
imperfeições em seu corpo, principalmente as
causadas por acidentes e punições. Desde o
início dos tempos, os seres humanos têm
participado ativamente na busca do
autoaperfeiçoamento. A cirurgia plástica
pode ser uma das mais antigas artes de cura
do mundo.
Relatos que datam de quatro mil anos a.C.
informam que práticas de cirurgias
reparadoras já eram realizadas entre os
hindus. As tribos na época praticavam
punições pesadas aos seus integrantes. Como
na época eram permitidas as dissecções
anatômicas, abriu-se um grande campo para os
experimentos e a cirurgia plástica se
desenvolveu.

Os primeiros relatos documentados sobre cirurgia plástica, que se tem notícia, encontram-se no Papiro de Ebers,
no Egito, cerca de 3500 a.C., no qual se
relata
a realização de transplantes de tecidos.
Este papiro data do reinado de Amenofis I, no Egito, tendo sido encontrado num túmulo da necrópole de Tebas e hoje, se encontra na biblioteca da Universidade de Leipzig.

Ainda no antigo Egito, o papiro de Edwin Smith (aprox. 2500 a.C.) destacou-se como um verdadeiro manual de cirurgia, no qual se faz referências há tratamentos de fraturas mandibulares, nasais, cranianas, operações plásticas do nariz, lábio e outros. Encontrado também em Tebas no Egito em 1861. Encontramos ainda prescrições como: "receitas para embelezamento da pele" e a curiosa "receita para transformar um velho em um jovem",
entre outros procedimentos cirúrgicos. É um dos mais importantes documentos da medicina antiga do Vale do Nilo.
 As origens da cirurgia estética tampouco são recentes. Ainda é possível encontrar civilizações na pré-história com práticas cirúrgicas primitivas com fins de embelezamento.
Em culturas como a babilônica, assíria e egípcia realizavam-se cirurgias, entretanto, havia penalidades para o insucesso. O rei Hamurabi da Babilônia formulou o primeiro código de leis da história das civilizações por volta de 1750 a.C. e nele regulamentava tudo, inclusive a atividade médica com castigos que variavam desde lesões corporais até a morte do cirurgião quando este falhava.
Na Índia, houve um desenvolvimento grande da Cirurgia Plástica, principalmente das rinoplastias. No século VI a.C., o primeiro cirurgião plástico de que se tem notícia, Sushruta, escreveu um famoso livro, Sushruta Samhita,
onde relatou importantes descrições sobre a
reconstrução de narizes, com transplantes de
pele da fronte, que eram
realizadas na Índia no ano 2500 a.C. Era
costume punir os prisioneiros de guerra, as
mulheres em caso de adultério e delinquentes, com a amputação do nariz. Esse era um procedimento tão frequente que desenvolveram um método engenhoso para reparar tal perda, cuja reconstrução era feita à custa de retalhos da testa. Ainda hoje são empregadas técnicas como o “retalho indiano” para reconstrução nasal.

Sushruta

Retalho Indiano
Naquele tempo, quem se dedicava a esta
habilidosa atividade eram os oleiros, que
possuíam o segredo da manipulação de tecidos
vivos. Realizavam, com a pele da frente, um
retalho, que giravam e incorporavam ao resto
do nariz existente. Quando o extremo distal
havia "colado" ao leito receptor,
seccionavam o pedídulo e devolviam o
excedente a seu lugar de origem. Estes
conhecimentos foram transmitidos a Pérsia e
Arábia e, mais tarde, à Grécia e Itália.
No V século a.C. com o aparecimento de Buda
na Índia, Lao Tse e Confúcio na China, com
novos conceitos religiosos e filosóficos
humanitaristas preconizando a preservação do
corpo sem alterações para a vida pós-morte,
a cirurgia então declinou.
No V século a.C., na Grécia eram proibidas
as dissecções anatômicas, pois havia o
famoso desejo de respeitar os corpos após a
morte. A religião não permitia dissecções
anatômicas em cadáveres humanos, então se
dissecavam animais. A religião passou a
assumir todo o poder como que em um
retrocesso aos primórdios das civilizações
(a Igreja se posicionou fortemente contra as
dissecções e operações e somente no século
XIII é que os médicos e os cirurgiões
começaram a ser igualmente respeitados).
Assim, o interesse pela medicina e cirurgia
declinou, pois os problemas do homem podiam
ser resolvidos só pela religião. Em Roma, as
dissecções anatômicas também não eram
permitidas pela religião, então passou a
absorver também o conhecimento científico da
Grécia.
Hipócrates (século V a.C.), o "pai da
medicina", deixou descrições de inúmeros procedimentos relativos à
Cirurgia Plástica como enfaixamentos, cuidados com a estética
de curativos. Preocupou-se com os problemas
da cirurgia plástica. Receitava pomadas e
unguentos com a finalidade puramente
estética, como no tratamento das sardas,
calvície e excesso de pele. Fez referência
às fraturas do nariz e dizia "as partes
devem ser modeladas imediatamente, se
possível".
Entre 460 e 377 a.C. foi formulado o
Juramento de Hipócrates. Sob essa
influência, em 150 a.C., foi proibido que
médicos e cirurgiões respeitáveis, educados,
usassem bisturis e cortassem pacientes. Tais
tarefas, consideradas selvagens, ficavam
para artesãos menos educados.
Após a morte de Alexandre Magno em 323 a.C.,
aos 33 anos, vitimado por malária, o império
dividiu-se entre seus generais. A Ptolomeu
Soter coube o Egito e ele como governante
permitia dissecções humanas “in vivo” nos
indivíduos condenados à morte. Assim a
medicina nesse período progrediu na anatomia
e fisiologia, salientando-se nomes como
Erasistrato, tido como o pai da fisiologia e
Herófilo. Consequentemente a cirurgia da
Escola de Alexandria foi desenvolvida.
Na antiga Roma (século I) também foram
feitas importantes descrições sobre
cirurgias plásticas. Aulus Cornelius Celsus
marca época na história da cirurgia plástica
com seus trabalhos sobre transplante de
tecidos. Pode ser chamado o Pai da Cirurgia
Plástica, nasceu em Roma, sendo o espelho da
Escola de Medicina de Alexandria. Em seu
livro "De Re Medica", escrito 30 d.C.,
encontra-se uma segunda referência histórica
da especialidade, sendo este o documento
médico mais antigo dos manuscritos de
Hipócrates. Ele aborda métodos reparadores
para nariz, lábios e orelhas com retalho de
pele retirados das adjacências. Cuidou de
problemas relacionados à correção do
entrópio e ectrópio palpebral, da ptose
palpebral, sindactilia e das fissuras
labiais.
Em seguida, durante o período bizantino,
Oribasius compilou uma enciclopédia médica
intitulado "Medicae Sinagoga". Este trabalho
de 70 volumes continha numerosas passagens
dedicadas à técnicas reconstrutivas para
reparar defeitos faciais.
Nos países europeus, os avanços da Cirurgia
Plástica eram lentos.
O progresso geral da Cirurgia Plástica, como
na maioria da Medicina, foi lenta nos
próximos mil anos, com técnicas utilizadas
na Índia, os conhecimentos orientais, foram
introduzidos no Ocidente e posteriormente
refinado e adaptado para novas aplicações.
Claudius Galeno (130 D.C - 210 D.C) médico
grego que emigrou a Roma refletindo a escola
de Hipócrates, emprestou especial carinho à
reconstituição de lesões nasais, auriculares
e bucais. Deixou instruções precisas e
claras de como empregar o linho, a seda e o
catgut nas ligaduras hemostáticas. Fez
experimentos em animais, principalmente
macacos. Realizou também cirurgias
reconstrutivas, tendo sido o mais famoso
médico da Roma antiga. Com a queda do
Império Romano o Ocidente perdeu estas
práticas cirúrgicas.
No tempo de Hipócrates e seus discípulos não
se fazia distinção entre medicina e
cirurgia, apesar de Galeno ter dito que "a
cirurgia era somente um modo de tratamento".
O pensamento científico restrito aos
escritos deixados por Galeno e Hipócrates
que foram guardados por monges nos
mosteiros, principalmente Beneditinos. Vale
lembrar a presença dos árabes na Europa que
lá estiveram por 700 anos e que tiveram o
mérito de não destruir, ao contrário,
guardar, estudar e enriquecer os
conhecimentos hipocráticos e galênicos.
Por um período de quase dez séculos o
pensamento científico ficou praticamente
estagnados por diversos motivos,
principalmente religiosos. A igreja, cuja
autoridade era incontestada, impediu todo o
espírito de pesquisa como, por exemplo, a
interdição das dissecções que, aliás, foi
mantida até 1480. A cirurgia foi considerada
uma prática bárbara, também condenada pela
igreja. Iniciou-se neste período a chamada
"desorientação anatômica", como resultado do
profundo respeito aos cadáveres. Além disso,
a segurança dos pacientes cirúrgicos foi
adicionalmente comprometida pela falta de
normas de higiene e limpeza. Em grande
parte, a ciência deu lugar ao misticismo e a
religião. Para a maioria, a busca do
conhecimento científico tinha sido
substituída por um foco em questões mais
pessoal e espiritual.
Antylus reproduziu algumas operações da
especialidade, baseando-se muito
provavelmente nos trabalhos de Celsus.
O cirurgião militar bizantino e continuador
da técnica de Galeno, Paulo de Egina (Paulus
Aegineta), escreveu um breviário de cirurgia
onde compilou o que já havia sido dito pelos
gregos. Discutiu, com sua experiência
pessoal: traqueotomia, tonsilectomias,
flebotomias e redução do tamanho das mamas,
abordou o tratamento corretivo de lesões
auriculares, nasais e bucais, bem como foi o
autor de uma técnica para a remoção de mams
hipertróficas no homem.
Durante os séculos IX e XIII o monopólio da
arte de curar era compartilhado entre o
clero e os judeus.
A primeira escola de Medicina foi a de
Salerno (século IX), que fornecia ensino
verdadeiro e diploma. Henri de Modeville,
também da escola de Salerno, faz renascer a
técnica rinoplástica. A partir daí, já na
idade média, a Cirurgia Plástica passa pela
sua fase mais obscura. As referências à
Cirurgia Plástica foram insignificantes.
Apenas algumas queiloplastias (reparação do
lábio) e reparações nasais são citadas. A
Itália lidera a pesquisa anatômica durante
pelo menos dois séculos, inicialmente com a
Escola de Salerno (criada por Frederico II
da Sicília). O médico formado devia
pertencer à igreja e falar latim. Os doentes
eram assistidos por monges de modo geral. Os
médicos eram, ordinariamente, membros de
várias ordens religiosas como Franciscanos,
Beneditinos ou Dominicanos. Seu ensino tinha
sido dogmático, ele se preocupava mais com a
discussão teórica e citações de textos
antigos. Qualquer ação manual era
considerada desonrosa e significava perda da
autoridade. Como homem da igreja não poderia
derramar sangue. Recusava-se a qualquer ato
cirúrgico, deixando-o para os inferiores: os
barbeiros cirurgiões, que eram simples
operários, iletrados e leigos.
O médico usava a toga longa e o barbeiro
cirurgião a toga curta. Os médicos exigiam a
submissão dos então chamados
cirurgiões-barbeiros.
Do século XV em diante os europeus falam de
uma nova era e há o nascimento de uma nova
cirurgia em virtude do desenvolvimento da
anatomia e da fisiologia.
Apenas no século XVI os cirurgiões atingiram
sua autonomia com Ambroise Paré, que foi o
primeiro médico que dedicou todo o seu tempo
à cirurgia.
Em 1540, os barbeiros e os cirurgiões de
Londres se unem na Companhia dos Barbeiros
Cirurgiões, que se transformaria no Royal
College of Surgeons em 1800.
No século XIII, o Papa Inocêncio III proibiu
que os padres praticassem operações
cirúrgicas pela lei da Igreja, que mais
tarde eles foram considerados indignos. Com
o decreto, os médicos deixaram a prática
operatória, que passou para as mãos dos
cirurgiões inferiores (barbeiros, carrascos,
charlatões, capadores de porcos etc.).
Apesar das experiências feitas às escuras,
as coisas só mudaram quando o Papa Sisto V
autorizou as dissecções anatômicas em 1480.

Durante o Renascimento, houve avanços na
ciência e tecnologia, o que resultou no
desenvolvimento de técnicas cirúrgicas mais
seguras e mais eficazes. Um texto islâmico
do século XV, intitulado "Cirurgia imperial"
foi escrito por Serafeddin Sabuncuoglu, e
incluiu o material em cirurgia maxilo-facial
e cirurgia de pálpebras, bem como um
protocolo para o tratamento de ginecomastia,
que é a base para o método moderno de
redução cirúrgica de mama.
Com a lepra e a sífilis que assolou o sul da
Europa e já no renascimento, séculos XV e
XVI, a cirurgia plástica retoma seu fôlego
com as rinoplastias.
Neste momento estamos em pleno Renascimento,
os estudos anatômicos autorizados pela
Igreja propiciam o avanço da Medicina.

A invenção da imprensa pouco antes, faz com
que o pensamento científico seja divulgado e a ciência
acorda de um sono de quase mil anos.
O
conhecimento anatômico foi condição vital
para o avanço da cirurgia, pois conhecendo o
corpo humano adequadamente, o médico teve
possibilidade de atuar nele com menor
probabilidade de erro. Os estudos anatômicos
estiveram presentes em algumas culturas, é
bem verdade, como na Índia do II milênio
a.C., mas é a partir do Renascimento, no
século XVI, que tomaram impulso definitivo,
principalmente, com Leonardo da Vinci e
Andreas Vesalius, este, com sua obra “De
Humani Corporis Fabrica”, publicada em 1543,
marco inicial da anatomia moderna. O
conhecimento da anatomia reconstrutiva foi
aplicado assim para as correções congênitas
e estéticas, alcançando assim a atual
Cirurgia Plástica.
Em 1442, Branca, de Catânia ou Messina
(Sicília), reparava defeitos faciais,
principalmente o nariz, através de um antigo
método índio. Branca aprendeu a arte de
restaurar narizes, suprindo-os com material
retirado do braço do paciente (retalhos
braquiais) ou colocando sobre a região o
nariz de um escravo (relato descrito por
Elysius Calentius). Branca filho, chamado
Antonio, querendo evitar uma lesão de
acréscimo numa região exposta, introduziu o
verdadeiro retalho italiano da face
ântero-medial de um dos braços para reparar
a lesão nasal. Há relatos que nesta mesma
época, Mongitore e Baltazar Pavone
reproduziram esta operação. Em um trabalho
publicado em Veneza em 1947 o professor de
anatomia Alexandre Benedictus relata, com
riqueza de detalhes, como a técnica
cirúrgica era realizada. Em 1460, Heinrich
von Pfalspeundt, cirurgião do exército
bávaro, fez menção ao método de rinoplastia
de Branca. Da Sicília este método passou
para a Calábria, através dos Vênetos para o
Velho Mundo. Com isso grande celebridades
aperfeiçoaram a arte de reconstruir narizes.
A Itália era o único país onde se praticava
a arte rinoplástica.
Entretanto, a prioridade do método italiano
é atribuída a Gasparo Tagliacozzi, professor
de anatomia na Universidade de Bolonha é o
"primeiro a descrever cientificamente e
fisiologicamente esse método" no seu tratado
de 298 páginas: "De Curtorum Chirurgia per
Insitionem", publicado em Veneza, no ano de
1597 e reimpresso em 1598 em Frankfurt.
Descreveu cientificamente a reconstrução de
nariz, com suas indicações, contraindicações
e perigos e descreveu a técnica com todos os
seus tempos, imprimiu às rinoplastias um
aspecto estritamente cientifico. Conhecido
como retalho italiano, foi um dos mais
importantes pioneiros da Cirurgia Plástica
reconstrutora de sua época.
Foi atacado por teólogos da igreja romana
que diziam que a "prática plástica
interferia com a obra de Deus e seu êxito
deveria ser intervenção do diabo".
Tagliacozzi foi considerado agente do
demônio. Mesmo depois de sua morte, o Santo
Tribunal da Inquisição mandou queimar a sua
obra. A revolta religiosa chegou ao ponto de
exigir a exumação de seu corpo das terras
sagradas da igreja de San Giovanni Batista e
a transladação dos restos mortais para
terras profanas. Segundo Garrison,
Tagliacozzi, por essa inovação registrada,
foi insultado por muitos durante todo o
século seguinte (XVII). Assim, esta cirurgia
ficou abandonada até o século XVIII. Neste
tempo, a Companhia Inglesa das Índias
Orientais transmitiu a noticia sobre a
reconstrução do nariz realizada em um
soldado hindu que servia no exercito inglês.
A partir daí, o antigo método hindu
(utilizado na Índia) dos retalhos passou a
ser utilizado na Europa e América.

Cirurgia desenvolvida por Tagliacozzi
Mas foi só a partir do século XIX que a
especialidade passou a ser reconhecida como
importante ramo da cirurgia, época em que
apareceram nomes de pesquisadores
importantes, tais como Johann Friederich
Dieffenbach, em 1814 deu grande impulso à
Cirurgia Plástica, uma vez que o método
italiano foi ressuscitado na Alemanha, em
1816. Dieffenbach foi o maior restaurador de
narizes desde Tagliacozzi. Foi quem propôs
confeccionar um retalho de couro cabeludo
para rinoplastias a fim de evitar cicatrizes
frontais.
- Jonh Peter Mettauer, americano, em 1827,
realizou a primeiro palatorrafia.
- Warren Jr, em 1834 realizou a primeira
rinoplastia pelo método italiano nos EUA.
Embora o termo Cirurgia Plástica tenha sido
pela primeira vez usada em 1838 por Edward
Zeis em seu livro “Handbuch der Plastichen
Chirurgie”.
Ainda Langenbeck e Billroth, em 1861.
A necessidade sempre existiu. Desde a
presença do homem na Terra, ocorreu o
trauma, a lesão corporal e a patologia
cirúrgica. O uso de armas de fogo aumentava
cada vez mais, principalmente com as guerras
e o aprimoramento de armas capazes de
agredir em maior escala, como as armas de
fogo a partir do Renascimento e as fabulosas
máquinas de guerra do nosso século e o uso
da cirurgia se fazia cada vez mais
necessário.

O sucesso foi a condição que fez com que a
cirurgia passasse a ser vista como um meio
de tratamento e não mais como última
alternativa. Foi ele que possibilitou a
visão mais natural do procedimento
principalmente por parte do paciente e da
sociedade.
Antes do Século XIX, toda cirurgia era
limitada pela incapacidade de aliviar
adequadamente a dor da cirurgia em si e pela
alta taxa de mortalidade. A cirurgia dá
maior passo da sua história com o uso do
éter na primeira forma de anestesia geral,
em 16 de outubro de 1846 por Willian T.G.
Morton, utilizado publicamente pela primeira
vez numa sala de operações no Massachussetts
General Hospital, introduzindo a era da
anestesia moderna, com mais conforto e
segurança para os cirurgiões.
Ignaz Philipp Semmelweis argumentou que a
lavagem das mãos diminuiria as infecções
hospitalares. Luiz Pasteur provou que as
bactérias provocavam infecção e Joseph
Lister em 1865, idealizou o conceito da
cirurgia antisséptica, diminuindo
significativamente o risco de infecção
cirúrgica no pós-operatório. Assim, iniciou
uma nova era na cirurgia; em 1869 conseguiu
reduzir a taxa de mortalidade operatória de
50% para 15%. Aplicou a teoria dos germes de
Pasteur para eliminar os
microorganismos vivos em feridas e incisões
cirúrgicas. Foi recebido com ceticismo, mas
por volta de 1880 já era aceito por todos.
As técnicas de antissepsia e assepsia foram,
finalmente, aceitas como parte da rotina
cirúrgica em meados de 1890. Como
consequência, o uso de luvas, máscaras,
aventais e gorros cirúrgicos evoluíram
naturalmente. A anestesia aumenta a
possibilidade e a antissepsia a margem do
êxito. Estas conquistas permitiram aos
cirurgiões realizar uma ampla variedade de
procedimentos cada vez mais complexos, com
um rápido desenvolvimento e progresso das
técnicas cirúrgicas e avanços tanto na
cirurgia reparadora como na estética.
Durante o século XIX destacaram-se alguns
“cirurgiões” que contribuíram para o
desenvolvimento da cirurgia plástica como
especialidade como Von Graefe, Velpeau,
Ollier entre outros. Antes desse período, o
insucesso, em grande parte das vezes com
óbito do paciente, era frequente. Cabe
lembrar, todavia, que a Cirurgia Plástica,
neste ponto levou vantagem, pois atuando em
superfície e em órgãos com boa irrigação e
consequentemente boa defesa, oferecia menor
risco ao paciente.
Pouco depois, em 1869, Reverdin publica sua
tese, em que mostra a possibilidade de se
transferir pele de uma região para outra (o
chamado “enxerto livre”). Sobre esta
questão, é importante relatar o papel da
Igreja, que pressionava os serviços de
cirurgia para impedir a continuação da
prática reparadora, alegando tratar-se de
atividade que ia além do limite dos atos
humanos por reparar os desígnios de Deus.
A cirurgia estética nasce como tal sob as
mãos de um cirurgião alemão, Jacques Joseph,
que, em 1896, realiza a primeira intervenção
para corrigir as orelhas de abano de uma
criança. Em 1898, "um homem com um nariz
adunco" se apresentou em seu consultório
buscando uma solução para seu problema.
Depois de estudar o problema durante um
tempo, Joseph aceitou realizar a operação.
Nesta ocasião a cicatriz foi realizada no
dorso do nariz; o resultado foi satisfatório
e a transformação ocorrida no paciente foi
assombrosa. Em 1904 Joseph relata 43 casos
de rinoplastia (cirurgia do nariz): 30 em
homens e 13 em mulheres; descreve esse novo
método, realizado mediante incisões
internas, e o material cirúrgico, desenhado
especialmente para isso. É interessante
ressaltar que, paradoxalmente, a maioria dos
pacientes, pioneiros na cirurgia estética,
são homens.
Lexer realizou, em 1906, a primeira cirurgia
para corrigir as rugas do rosto. Moestin,
Joseph, Passot, Duformentel, aportaram
conhecimentos importantes e são considerados
os pais da atual cirurgia estética.
Em 1907, o Dr. Charles Miller escreveu o
primeiro texto escrito especificamente para
cirurgia plástica, intitulado "A Correção de
imperfeições". O texto, enquanto a frente de
seu tempo, em alguns aspectos, no entanto,
foi criticado e denunciado como
"charlatanismo" por muitos cirurgiões
gerais.
O século XX foi marcado sem dúvida pela
grande explosão do desenvolvimento da
Cirurgia Plástica, que se converteu em
interesse social e humanista, principalmente
pelas duas Grandes Guerras Mundiais.
A I Guerra Mundial era baseada em
trincheiras. Os membros e o torso dos
soldados ficavam protegidos, enquanto que a
cabeça e o pescoço ficavam expostos ao fogo
de artilharia. Quando acabada a guerra, os
soldados com ferimentos faciais
desfigurantes se encontravam com
dificuldades para tornar ao convívio em
sociedade. O elevado número de ferimentos
maxilofaciais constituíram um novo problema
social. Além dos milhares de soldados que
morreram, milhões foram mutilados ou
deformados, requerendo um tratamento
cirúrgico especializado. Durante a I Guerra
Mundial os conhecimentos evoluem,
sistematizam-se e abrem novas perspectivas
para o desenvolvimento das técnicas
reparadoras e da cirurgia estética, todavia
incipiente.
A Primeira Guerra Mundial, que trouxe a
Cirurgia Plástica para um novo nível dentro
do estabelecimento médico. Com a I Grande
Guerra, pacientes mutilados, com lesões em
face, membros e outras regiões, forçaram o
desenvolvimento, principalmente na Alemanha,
França e Inglaterra, da Cirurgia Plástica
Reparadora, dedicada a tratar sequelas
físicas das lesões de guerra. Constata-se,
então a necessidade de formar profissionais
dirigidos para as reparações corporais.
Assim, a Cirurgia Plástica como
especialidade médica nasceu oficialmente dos
horrores da I Guerra Mundial e da quantidade
de vítimas da guerra que necessitavam de
muitas cirurgias na área reconstrutiva.
A primeira geração corresponde à época
anterior e meados da Segunda Guerra Mundial,
sendo McIndoe e Harold Gillies neo-zelandês,
especialista em orelha e garganta, conhecido
como o pai da cirurgia plástica moderna,
trabalhou com mutilados da guerra,
desenvolveu novas técnicas de reconstrução,
como o retalho tubular (descrito pelo russo
Filatov), além de retalhos cutâneos, e
enxertos de osso, cartilagem e pele, em
1920, na Inglaterra, Ivy (cirurgião geral),
Lê Cohen (especialista em orelha e
garganta), Kazanjian (dentista), Converse
(cirurgião plástico), Aufrich e Safian nos
Estados Unidos, Caloé e Suzanne Noel,
Tessier (cirurgia craniofacial ), na França,
os nomes mais importantes dessa época.
Suzanne Noel, ardente feminista, praticou a
cirurgia estética até 1954.
Durante a guerra, formaram-se colaborações
entre cirurgiões de diversas nacionalidades
e disciplinas para ajudar a todos estes
soldados e civis afetados. Os cirurgiões
americanos, ingleses, franceses, alemães,
russos e austro-húngaros se converteram em
profissionais de diversas especialidades.
Médicos militares eram obrigados a tratar
muitos ferimentos no rosto e na cabeça
extensos causados por armas modernas,
tentado retomar o aspecto mais natural
possível de uma reconstrução. Estas lesões
graves exigiram inovações técnicas e de
instrumentais em procedimentos cirúrgicos
reconstrutivos. Alguns dos cirurgiões mais
qualificados da Europa dedicaram suas
práticas para restaurar os soldados de seus
países durante e depois da guerra.
No período da guerra realizou-se 11.572
operações principalmente no rosto, face no
Queen’s Hospital, Kent, Inglaterra. A
Cirurgia Plástica começou a crescer logo
depois da I Guerra Mundial, argumentava-se
que “se os soldados cujas faces haviam sido
despedaçadas por um bombardeio no campo de
batalha podiam voltar a ter uma vida normal
com novos rostos criados pelo engenho da
nova ciência da cirurgia plástica por que
aquelas mulheres com sinais da idade não
poderiam ter o direito de encontrar
novamente o formoso contorno da juventude“.
As duas grandes guerras mundiais serviram de
auxílio para os mutilados de guerra e
possibilitaram aos cirurgiões que atuavam no
front de batalha, adquirir uma vasta
experiência em reparações de feridos, que
então puderam transmiti-las ao mundo
científico. Além dos milhares de soldados
que morreram, mais de doze milhões de
feridos, entre estes, muitos mutilados
faciais ou deformados, gerando uma demanda
enorme por procedimentos de reconstrução e
reparação estéticos. Cirurgias reparadoras,
principalmente de defeitos causados pelas
armas de fogo, foram se aperfeiçoando após a
primeira guerra mundial e principalmente
após a segunda, e na primeira metade do
século 20 pouco se fazia para corrigir
defeitos estéticos, fazendo-se até mal juízo
do Cirurgião que executava cirurgias
"apenas" para modificar a aparência. As
Cirurgias Plásticas eram realizadas por
qualquer Cirurgião, eram poucos os que
gostavam dessa prática e ainda não havia o
conceito de especialista.
Á medida que a tecnologia da medicina
evoluiu, os procedimentos de Cirurgia
Plástica foram no mesmo ritmo. Desde então,
técnicas reconstrutivas foram criadas e
aperfeiçoadas. Com a descoberta dos
antibióticos, passou a ser possível a
realização de Cirurgias mais longas com
segurança e sem o risco de infecções.
A existência de especialistas, a necessidade
crescente, a anatomia dominada e o sucesso
consolidado somam-se às mudanças
socioculturais a partir da década de 20, com
a posição mais independente da mulher e a
maior exposição corporal, pois enquanto
antes, era apreciável a pele alva para não
se parecer com um camponês, com a revolução
industrial os trabalhadores internam-se nas
fábricas passando eles a ter a pele clara,
assim, como diferenciação, a cútis bronzeada
passou a ser conceito de beleza. A cirurgia
estética então avança a passos largos,
incorporando-se à sociedade como recurso dos
mais utilizados para obtenção de uma das
finalidades primaciais da medicina: o bem
estar do ser humano.
Nos Estados Unidos, a Cirurgia Plástica se
difundiu mais tardiamente, principalmente
pelas técnicas trazidas da Europa.
Instituições de Ensino e Pesquisa, com
recursos e alto grau de organização foram as
responsáveis por fazer do país um expoente
da especialidade, sendo um dos grandes
centros da especialidade no mundo. Durante a
década de 60, o conceito de cirurgia
plástica cresceu na consciência do público
americano à medida que mais médicos
realizavam procedimentos de Cirurgia
Plástica.
De fato, por estas atitudes, os cirurgiões
começaram a realizar plenamente o potencial
de influência que a aparência pessoal
poderia exercer sobre o grau de sucesso na
vida pessoal de cada um. Devido a esse
entendimento, a cirurgia estética começou a
tomar o seu lugar com um aspecto mais
respeitado da cirurgia.
Timmie Jean Lindsey, uma americana mãe de
seis filhos, foi a primeira mulher a receber
um implante de silicone para aumentar o
tamanho dos seios, em 1962.Cinquenta anos
depois, a operação realizada no hospital
Jefferson Davis, em Houston, no Estado do
Texas. Os cirurgiões pioneiros foram Frank
Gerow e Thomas Cronin.
Os médicos Giorgio e Arpad Fischer, dois
cirurgiões ítalo-americanos que trabalhavam
em Roma, inventaram a lipoaspiração, em
1974. Algumas técnicas relativamente
modernas de escultura da gordura corporal
foram realizadas pela primeira vez pelo
cirurgião francês Charles Dujarier. Embora
tenha sido um caso trágico (que resultou em
gangrena na perna de um modelo francês em um
procedimento realizado pelo Dr. Dujarier em
1926), esse foi apenas o início do que
chamamos hoje de lipoaspiração. Estas
primeiras investidas foram, porém, um
verdadeiro fracasso e a prática da Cirurgia
Plástica foi praticamente banida.
A lipoaspiração evoluiu no final dos anos 60
por cirurgiões europeus e foi lançada nos
Estados Unidos a partir de então.
Entretanto, naquela época os métodos
utilizados ainda eram irregulares e o
procedimento ainda contava com uma alta taxa
de mortalidade. O cirurgião europeu Leon
Forrester Tcheupdjian foi o pioneiro nos
Estados Unidos, usando técnicas de curetagem
primitiva que foram amplamente ignoradas,
como conseguiram resultados irregulares com
morbidade significativa e sangramento
importante.
Já no ano de 1974, na Itália, Giorgio
Fischer e seu pai, Arpad Fischer, criaram a
técnica da lipoaspiração, para a remoção de
gorduras em diversas regiões do corpo. No
entanto, essa técnica se tornou quase
inviável, pois era muito arriscada. O
descolamento da pele e a aspiração da
gordura eram feitos “a seco”, promovendo
grande perda de sangue e fazendo com que os
riscos de possíveis complicações fossem
altíssimos. Esse processo podia causar ainda
deformidades na pele, além de danificar os
nervos, prejudicando parte do tecido
muscular.
Em 1977, o cirurgião plástico francês Dr.
Yves Gerard Illouz procurou criar um método
para eliminar a gordura localizada de suas
pacientes sem que as cicatrizes ficassem
aparentes e, sobretudo, sem a perda de tanto
sangue. Para isso, ele confeccionou uma
cânula rudimentar e, durante o processo
cirúrgico, passou a injetar uma solução
salina entre o tecido adiposo e o músculo,
aumentando a distância entre eles e
diminuindo a perda de sangue e hematomas.
Daqui por diante diferente técnicas para
cirurgias diversas no corpo foram criadas em
particular e dentre as últimas
contribuições, depois da lipoaspiração na
década de 1980, temos agora as reconstruções
parciais da face feita por cirurgiões
franceses e recentemente repetidas pelos
chineses. |